Filme recordista no Brasil , até o momento presente ,”Tropa de Elite 2″ mostra as faces negras do poder tanto os dos bandidos quanto a dos moçinhos. Investimento cinematográfico orçado em R$ 16 milhões , sinaliza que o retorno deva sem bem maior . Isto parece ser confirmado pelo alvoroço da mídia e pela multidão que aflui às mais de 661 salas brasileiras.
O público que se candidatou a enfrentar filas intermináveis e sessões corujas no cinema parece saber muito bem o que deseja .Na ânsia de saciar a curiosidade mórbida pelo ” quanto pior , melhor” , ou no desejo de apenas ver uma boa estória regada por emoções fortes em cor vermelho-sangue ou ,ainda , apenas por entretenimento compatível com a natureza belicosa natural humana , não vemos motivo para criticar negativamente um film e deste gênero. Afinal a violência é bajulada de perto por nós desde os velhos tempos do ” faroeste” , passando por Bruce Lee até chegar a “Matrix” ou “O Livro de Eli”. Desde sempre ,argumenta-se ser “uma boa estória” em torno de um corpo que cai sem vida .
Até nossos filhos crescem sob a complascência dos psicólogos(que afirmam que o mundo que vivemos é o mundo real) , e a conivência dos pais ( que acreditam que se aprende a viver no mundo pelas portas da agressividade e da lei da seleção natrural proposta por Lammarc (“só os fortes sobrevivem”). Desde as fraldas , os infantes vão sendo adestrados a aprender a viver e conviver pela a violenta arte dos desenhos animados . Filmes inocentes como brigas de ” Pokemons” ,eram estimulados em adesivos e bonecos,cardes e posters… muito embora proibamos brigas de canários , galos ou cães .Uma hipócrita contradição.
E , depois, muitos se perguntam porque a sociedade e , principalmente a juventude é violenta.
O problema não é o fato de desenvolver ou não um olhar crítico sobre a sociedade e de saber separar ficção de realidade , ou de perceber ou não as causas e motivações da violência do outro.
O filme em questão apenas tenta retratar fielmente ( talvez o consiga) a realidade que os telejornais estampam e invadem nossas casas após o jantar. Os noticiosos da telinha deveriam ser exibidos com recomendações apenas para certas faixas etárias , restringindo a democratização da violência e preservando a saúde mental do pequeno cidadão , a fim de evitar tanto a banalização da violência como de prevenir mais focos de uma nova geração de crianças neurotizadas , em pânico com os assaltantes ou talibãs qu e se escondem em cada esquina.
O problema não é falar por falar , pois para assistir a um filme basta ir ao cinema ou locadora ou revista do canal a cabo e escolher livremente o que se quer ver , assistir e se entreter , não importando se isto até se pareça com um Coliseu romano moderno visto na tela de uma tv.
O problema talvez seja “qual alimento é mais importante” para a mente do futuro cidadão, da tão sonhada ” nova sociedade”. O problema talvez seja na qualidade de emoções que desejamos para nós, nossa família ou sociedade.
Que valores estamos desenvolvendo e principalmente que análise crítica transformadora passamos a anunciar e denunciar após ver , assistir e se entreter com uma película com propostas de denúncia num palco ensangüentado?Após a passiva diversão , estaremos dispostos a erguer as mangas e trabalhar para a construção de uma sociedade mais fraterna e mais justa, menos corrompida e onde os injustos paguem o preço de sua injustiça e onde o ignorante aprenda a arcar com as consequências de seus atos?
Ou apenas assumimos que estamos fazendo pare da fatia da sociedade que repete pra si mesmo ” eu não tenho nada a ver com isso” , “isso é da responsabilidade do governo” , ” quem quiser cuidar deste assunto que cuide”…
Pertencemos à parte do grupo que quer se compromete por uma gradual mudança de consciência ou daquele grupo que ” faz olhos e ouvidos de mercador” e deixa as coisas acontecerem sem mover um dedo por uma mudança qualitativa do pensamento social , político e até mesmo religioso.Em seu verdadeiro sentido , a religião busca despertar a consciência e a necessidade de nos reconectarmos uns com os outros e , por consequência , com a divi ndade.
Quantos de nós poderíamos pegar este assunto ( violência e corrupção) e debater na Internet, nas salas de chat , nos colégios, faculdades e na mídia em geral , dissecando as raízes , consequências e alternativas , contribuindo para um upgrade no pensar e agir, cobrando daquele que nos representam uma resposta que possa ser traduzida em ações preventivas , não apenas (mal)curativas.
Nossa mente tem poder , e poder de destruição parece ser mais apelativo que o de construção ou de reconstrução.
O ser humano é curioso tanto das coisas espirituais quanto dos assuntos temporais .Há também uma turma do “Nosso Lar”…democracia é isso, escolher livremente e arcar com as conseqüências.
Na fase atual da história , parece que os meios justificam os fins ou melhor dizendo , “se queres ordem , prepara-te para o caos”. Mas , será que nós também não temos culpa na violência que ai está? Haveria traficantes de drogas se não existissem pessoas com mentes viciadas? Haveria piratas se não existissem consumidores de produtos falsificados? Haveria que sonegasse se não existisse injustiça na cobrança? Esta pergunta é feita desde os tempos do velho e bom Buda , mas a resposta ainda é atual….
A violência não se cura com a violência. A violência se cura com o amor.. amor-educação , amor-solidariedade , amor-emprego, amor-possibilidade, amor-engajamento , amor-justiça…
Há sociedades européias invejadas pela qualidade de vida, saúde, educação e baixo índice de corrupção. Os cidadãos de lá sabem e exercem seus direitos,mas cumprem deveres. Participam, se engajam e cobram…
E nós , para onde vamos?